terça-feira, 30 de julho de 2013

À Zé....


Porque só hoje aqui cheguei, fica a minha homenagem à amiga Zé que tão bruscamente nos deixou. Permanecerá para sempre na memória o teu sorriso, espelhado nos teus puros e lindos olhos.
Um beijinho e uma flor.....

"A UM AUSENTE

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste."


Carlos Dummond de Andrade

2 comentários:

Rosa dos Ventos disse...

Estes olhos da cor do céu e um doce sorriso eram a sua imagem de marca...já o disse noutro local!
E uma enorme capacidade de tolerância que a levava a não modificar a sua atitude perante diferenças!

mlu disse...

A Zé, que ficará connosco enquanto tivermos memória e coração, era mesmo assim! Era verdadeiramente a Zé dos "meus amores e minhas amoras", como muitas vezes a ouvi dirigir-se carinhosamente aos alunos! É uma mágoa que continua!

Bjs.