quarta-feira, 8 de julho de 2009

Os três Pastorinhos


Passeio Público
José Manuel Alho Biólogo

in Jornal de Notícias
7/7/09




Os três Pastorinhos

A "Casa do Administrador" é um projecto museológico agora inaugurado em Ourém e que se pretende associar à história das aparições de Fátima.
No processo das aparições de Nossa Senhora de Fátima aos três Pastorinhos o espaço agora reconstruído e musealizado foi local onde os videntes foram interrogados pelo Administrador do concelho de Ourém à época.
Artur Oliveira Santos era uma figura relevante no contexto da política da altura, fervoroso republicano de espírito aberto e que desempenhou o cargo de Administrador do Concelho de Ourém num período conturbado e difícil da nossa história, marcado pelo conflito da 1ª Guerra mundial em que Portugal participava e com consequências bem sentidas pela população local.
Nesse tempo Ourém apresentava uma dinâmica social e económica interessante no contexto regional e o espírito da República estava bem arreigado no seu quotidiano.
A história e o futuro de Fátima cruzam-se com a figura do Administrador pelo facto de no exercício das suas competências ele ser responsável pelo interrogatório de Jacinta, Francisco e Lúcia a propósito do fenómeno as aparições por eles protagonizado, tendo-os acolhido em sua casa entre 13 e 15 de Agosto de 1917.
Essa estadia decorreu, de acordo com fontes próximas, em clima de afectuosidade, contrariamente à ideia propagandeada mais tarde pelo Estado Novo, de que as três crianças tinham sido ameaçadas de serem "colocadas vivas num caldeirão de azeite a ferver".
É este episódio associado ao fenómeno religioso de Fátima que agora é apresentado no seu contexto social, económico e político.
Este espaço museológico está integrado num edifício de traça agradável e é composto por peças de simples e arejada leitura e poderá constituir-se como um pólo de visitação interessante se for associado a uma estratégia turística coerente e credível.
Poderá ser uma oportunidade de consolidar um circuito entre os dois principais pólos urbanos do concelho criando neste domínio do turismo religioso uma relação histórica e factual com algum interesse para uma franja particular dos turistas que procuram Fátima como destino.
Ficamos no entanto perplexos quando no acto da sua inauguração se anunciam rotas que associam exposições de móveis à visita a este novo espaço museológico como foi anunciado pelo presidente da Câmara Municipal e constatamos a ausência estrondosamente visível do presidente do Pólo de Turismo Leiria-Fátima, que curiosamente foi o anterior presidente da Câmara Municipal de Ourém que por acaso até lançou a obra.
Estamos perante uma iniciativa que tem condições para contribuir de forma positiva para uma estratégia de Turismo para Fátima, mas que começa com sinais muito negativos relativamente ao seu enquadramento funcional e institucional.
Seria lógico pensar numa integração deste novo espaço museológico numa rota que comtemplasse os outros museus, de qualidade reconhecida, já existentes em Fátima e também os espaços relacionados com a vida dos Pastorinhos como Aljustrel sua terra natal.
Esperamos que da ideia com algum potencial não resulte mais um "elefante branco" resultante da incapacidade de gestão e de bom relacionamento entre instituições que deviam trabalhar em torno de objectivos comuns!

PS: Dado que não houve possibilidade de linkar o artº através do JN, aqui fica o texto na íntegra fornecido pelo autor. Grata

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