segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

No rescaldo....

Não resisiti a "pedir emprestado" na íntegra o artigo de opinião do blogue "Perplexo" sobre o rescaldo das eleições, redigido por José Couto Nogueira.


Segunda-feira, 24 de Janeiro de 2011

"Se fôssemos mil portugueses...
Se fôssemos só mil eleitores, nas eleições Presidenciais de domingo:
533 ficaram em casa;
467 foram votar; desses
20 votaram em branco;
(menos de um anulou o voto, um valor sem significado);
portanto 553 (abstenções mais brancos) disseram NÃO aos políticos que nos governam;
a esses podemos somar os 21 que disseram que não há regeneração possível para esses políticos (os votos em Coelho, de protesto gritante);
aos 573 (ab.+br.+co.) podemos acrescentar os que disseram que não gostam dos políticos mas acham que a regeneração é possível: 67 votos em Nobre.
Portanto, em mil portugueses, há 640 que estão descrentes, ou chateados, ou furiosos com os grupos de influência (para não dizer gangues) que se instalaram no poder.
Em 1000 portugueses, só 360 acreditam no establishment político actual. (Establishment são pessoas instaladas nas estruturas e não as estruturas propriamente ditas.)
Aliás estes resultados já podiam ser previstos num estudo plubicado pouco antes das eleições pelo Projecto Farol, um think tank independente. De acordo com o estudo do Projecto Farol, 94 por cento dos portugueses dizem não confiar na classe política, 90 por cento nos Governos, 89 por cento nos partidos e 84 por cento na Assembleia da República. Cerca de 70 por cento revela também não ter confiança nos tribunais, na administração pública ou nos sindicatos.

Quase metade dos inquiridos afirma ter pouco interesse na política nacional (43 por cento) e na política local (48 por cento).

Os políticos fazem a leitura que lhes agrada das eleições; Cavaco, Nobre, Lopes e Coelho acham que ganharam. Só Alegre e Defensor reconheceram a derrota. Mas os próceres ou porta-voz dos partidos – Sócrates, Relvas, etc – todos consideraram que tinham ganho.
Mas a verdade, que não lhes convém ver (e que seria óptimo para nós que vissem), é que todos perderam. Cavaco foi eleito por 246 portugueses em cada mil - 24 por cento!
O problema não é o sistema; a democracia ainda é a melhor forma de Governo a que se chegou (nas civilizações conhecidas) e o nosso sistema, expresso na Constituição, é competente e tem os difíceis controles e equilíbrios que a melhor prática democrática recomenda.
Não, não é o sistema.
São as pessoas.
É precisamente o triunfo do bem-estar proporcionado pela democracia que esvaziou as ideologias. Sem ideologias para defender, os políticos dedicam-se à única ideologia que faz sentido para eles: ganhar dinheiro. É também esse vácuo ideológico que leva os 950 dos mil portugueses a ir para os shoppings em dia de greve geral, em vez de ir para a rua gritar pelos seus direitos.
Ficam de fora os 50 que militam na esquerda verdadeira (BE+PCP). Esses têm ideologia, mas infelizmente é uma ideologia que deu as piores provas práticas e não se adequa com as oportunidades dadas pelo sistema capitalista – oportunidades que nem todos conseguem ou sabem aproveitar, mas que todos querem ter como opção.

Conclusões? Tirem as que quiserem, mas os números falam por si. "

4 comentários:

afigaro disse...

E que faz o senhor jornalista? denuncia os "ditos" gangues, como se todos os que estão na política fossem um bando de malfeitores?...há bons e maus, como existem um pouco por todas as classes donde os jornalistas não podem ser excepção.
Que faz o senhor para que as ideologias regressem à política nomeadamente a social democracia, vulgo socialismo democrático e a democracia cristã? como viveria feliz se essa duas correntes políticas fossem preocupação da Europa. A democracia vive da alternância partidária.

maria mar disse...

Tens direito à tua opinião. Penso que tropeçaste na palavra "gangue" e por aí pegaste. Este texto é retirado de 1 blogue, que evidentemente pode ir parar a um jornal, mas enquanto "post" do blogue, é escrito a título particular. Gostei do conteúdo simples, na forma como explica o desinteresse de um povo por uma eleição. A forma como o faz é com o autor, mas no global é bastante esclarecedor.
O autor fala nos "grupos de influência instalados no poder, (para não dizer gangues)". A esses grupos de influência até poderia chamar máfias, ou outros adjectivos, que nao me repugnaria nada. São aqueles que movem influências, e fazem funcionar o sistema político ao arrepio do que deveria ser a boa governação do País.

afigaro disse...

Pois já vi muitos jornalistas dizer, falando dos políticos, que desse prato não comiam e foram parar à política....

...e enquanto cidadãos deste país também têm esse direito. Quantos mais melhor, porque parecem saber muita coisa( ou dizem que sabem),denunciando, fariam funcionar a Justiça tão arredada que anda de todos os cidadãos.
A Democracia também precisa que Justiça funcione!

maria mar disse...

Ah, pois! E de que maneira! A falta de justiça, o arrastar dos processos, o cansaço e a desmoralização pela demora, o ter que se pagar um serviço que funciona a destempo, etc., etc., etc., é um dos principais factores de desmotivação funcional do nosso povo.